Acredito que o hábito de leitura não seja algo natural ou instintivo. Eu não nasci com ele. Pelo contrário, precisei desenvolvê-lo e comecei a fazer isso tarde. Com mais de 25 anos de idade voltei ao hábito de ler, com um livros escolhidos por mim mesmo, sem o incentivo obrigatório da escola ou faculdade.
Aliás, acredito que a falta de incentivo à leitura deve ser feita por alguém que goste de ler de verdade e incentive a procurar por livros e/ou artigos que goste.
Primeiro incentivo à leitura
Lembro que durante o colégio, quando eu tinha entre 12 e 14 anos, uma professora nos incentivava a ler. Meu colégio estadual tinha uma pequena biblioteca com poucos títulos. Mesmo assim, consegui encontrar alguns livros que gostei muito de ler. Entre eles estavam vários livros da Série Vaga-lume com histórias de suspense que me deixavam bastante intrigado.
Mas o livro que mais marcou essa época foi um livro cujo nome não me recordo. Lembro apenas alguns detalhes que ficaram guardados em minha memória. Era um livro com uma leitura muito diferente de todos os livros que eu havia lido até o momento. Ele tinha um nome que remetia a algo de robô, ou tecnologia. Mas, como disse antes, não consigo lembrar qual era.
O maior detalhe que lembro é que contava a história de um adolescente que poderia, ao longo da história, fazer muitas coisas diferentes. Logo no final da primeira página, havia uma decisão que o personagem deveria tomar, o que direcionava a leitura para páginas diferentes. Eu deveria escolher qual decisão o personagem iria tomar, e ir até a página que correspondia à decisão tomada. Lá, as consequências eram mostradas e no final da página, uma nova decisão.
Aquilo me encantou logo de primeira. Nunca tinha visto algo do tipo. As decisões iam influenciando a história até chegar em um desfecho, muitas vezes inesperado. Alguns eram engraçados, outros surpreendentes, como finais onde o personagem morria ou cometia algum assassinato e era preso.
Fiquei com o livro por mais de duas semanas e até hoje nem sei se consegui chegar em todos os finais. Confesso que gostaria de lembrar o nome do livro para uma releitura. Se você já leu algo parecido, por favor, me conte.
Como abandonei o hábito de leitura
Esse incentivo, por parte do colégio logo acabou. Aliás, muitas coisas legais que existiam no colégio simplesmente acabavam do nada.
Conforme foi chegando a adolescência, comecei a ter outros interesses. Principalmente por jogos de computador, filmes e séries, que são coisas que ainda amo mas eram uma forma “preguiçosa” de ter histórias na época. Com isso, o hábito de ler foi sendo deixado de lado.
Eu não tinha dinheiro para comprar livros nem sabia onde procurar títulos que me interessassem. Isso tudo soa como uma bela e deslavada desculpa hoje, mas era o que fazia sentido na época.
Leitura durante os estudos
Durante o colégio e a faculdade, lembro de desenvolver o hábito de ler apenas o necessário para fazer provas e trabalhos.
Geralmente durante a faculdade os livros que devemos ler são técnicos. Aprendi, com alguém que não me recordo, a procurar os temas importantes no índice e ler apenas o que iria cair na prova, ou o que seria usado para fazer trabalhos.
Lia até o final apenas livros que me interessavam, como: Livros que falavam sobre técnicas e recursos visuais, livros de design, de persuasão e comunicação focada. Esses eram meus favoritos.
Mas por muito tempo os livros de ficção ficaram fora da minha vida.
A vontade de ler vem como uma chama
Tive a felicidade de assistir o seriado Lost. O seriado me deixou encantado por ter várias tramas que explodiam meu cérebro trazendo desfechos que eu nunca havia imaginado 🤯. Note que novamente o que me faz ficar entusiasmado é a presença de passagens que fogem da forma comum de pensar).
Fiquei curioso sobre como aquele seriado surgiu na cabeça de quem o escreveu. Comecei a pesquisar de onde vinha a criatividade para escrever algo tão “maluco”. Então, encontrei um site onde dizia que o seriado tinha sido inspirado em uma série de livros chamada A Torre Negra, escrito por Stephen King.
Não pensei duas vezes. Entrei no site Submarino e comprei o primeiro livro da série. Novamente me senti totalmente abraçado pela história, como na infância. Li o primeiro livro da saga em menos de 2 dias (o que era fora do comum para mim) e assim que terminei, comprei a coleção completa de 6 livros, alguns com mais de 600 páginas. A quantidade de páginas, que sempre foi um problema, já não era mais. Eu sabia que cada trecho do livro seria recheado de formas malucas de pensar.
O autor levou 33 anos para escrever a coleção completa, e eu estou lendo sem a menor pressa. No momento que escrevo esse texto, estou na metade da saga e estou saboreando cada página que leio.
Stephen King teve a criatividade de criar um mundo com referência de passado, presente e futuro em um mesmo mund, isso me encanta a cada linha que leio. Está sendo o melhor livro de ficção que li até o momento. Sempre fecho o livro perguntando a mim mesmo “O que será que vem pela frente?
O maior combustível para a imaginação
Com o hábito de leitura, comecei a perceber com o tempo que crio mentalmente imagens daquilo que estou lendo. O que me levou a entender a frustração das pessoas que lêem livros e depois assistem aos filmes do mesmo título.
Eu mesmo me frustrei muito ao assistir o filme da Torre Negra. É um filme bom para quem não tem a referência do livro, mas passa longe da história original em muitos aspectos. Os personagens e as situações se parecem muito pouco com a história contada no livro.
Ai que está o grande ponto. Eu criei um mundo baseado nos detalhes passados pelo autor. Conversando com minha irmã que também está lendo os mesmos livros, vejo que temos alguns pontos diferentes ao comparar os personagens com pessoas reais.
Mesmo tendo a mesma base de informações passadas pelo autor, a criação da história que é feita em minha mente é bem diferente da criada por minha irmã. A história que existe em minha cabeça é de minha autoria, com base na obra de Stephen King.
Vejo a criatividade dessa mesma forma. Junto elementos ao meu redor, vivo experiências, sinto emoções e com base nisso tudo, eu crio coisas novas. O mundo em que vivo serve como referência para a criação do meu próprio mundo.
Minha criatividade melhora bastante quando leio. Como um músculo que cresce quando treinado, sinto que minha criatividade fica maior e mais rápida quando leio.
Como fiz para voltar a ter o hábito de leitura
Comecei desafiando a mim mesmo em ler 4 livros no primeiro ano. Em horários pré-definidos, com tempo definido e de preferência em horários em que estava sozinho. Isso foi a mais de 3 anos. Nesse primeiro ano, consegui ler um total de 12 livros, triplicando minha meta. Isso me ajudou muito a retomar o hábito de leitura.
No começo era difícil manter o foco no livro. Me distraia facilmente com notificações do celular ou pensamento que não tinham nada a ver com a leitura. Hoje já nem deixo o celular no mesmo cômodo que estou enquanto leio. Quando o livro é técnico, deixo à mão um papel e uma caneta para fazer anotações e depois transfiro elas para o celular.
Hoje foco mais na qualidade do que na quantidade. Porque ler algo interessante para o que estou vivendo é muito mais importante do que ler um monte de livros que não fazem sentido algum.
Costumo ler sempre logo que acordo, pois isso acelera meu motorzinho da criatividade. Além de ser um combustível para que meu dia seja melhor. Noto que sempre que bebo 1 litro de água e leio durante 30 minutos, meu dia se torna muito mais produtivo.
Também leio a noite, pelo menos 30 minutos antes de dormir. Geralmente livros de ficção, que me fazem “desligar” do dia e focar na história. Isso me ajuda a ter um sono muito melhor pois desacelera o motor da produtividade. Não preciso ser produtivo enquanto descanso. Por isso meu hábito de leitura noturno é tão importante.
Porque você também deve manter o hábito de leitura
O hábito de leitura também me incentivou muito a escrever. Principalmente esse blog. Agora sempre que tenho uma ideia, procuro colocar ela no papel, ou no celular, o que estiver à mão.
Em resumo, ler me tornou mais criativo, calmo e perceptivo. Acredito que o hábito de ler (além da maturidade, claro) vem me tornando mais perceptivo e criativo.
Se tiver um livro que foi incrível para você, fico muito feliz se puder compartilhar comigo como foi bom e o que você tirou de proveito, para que eu possa ler também.